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Alentejo e Andaluzia, o futuro Silicon Valley da Europa?

26 Mai 2021

Mar Marín (texto) e Carlos Garcia (fotos)

EFE

Lisboa (EuroEFE) – No meio de um deserto populacional e no polo sul da Europa, a região agrícola portuguesa do Alentejo, que se destaca como destino turístico pelos seus vinhos e gastronomia, quer caminhar de mãos dadas com a Andaluzia espanhola para se tornar uma referência tecnológica da UE, “o Silicon Valley Ibérico”.

O embrião está na Plataforma Aeroespacial Andaluza-Alentejo, uma iniciativa que visa colocar no mapa esta zona fronteiriça hispano-portuguesa, explica Hugo Valadas, gestor deste projeto promovido pelo Parque de Ciência e Tecnologia do Alentejo, localizado na cidade de Évora.

O aeroporto subutilizado de Beja (Alentejo), os incentivos fiscais, o apoio dos fundos europeus a estas regiões deprimidas, a mão-de-obra qualificada e, sobretudo, a qualidade de vida oferecida pelo território aos novos habitantes são algumas das atrações com que pretendem chamar a atenção de novos investidores.

Esta iniciativa foi desenvolvida no âmbito do projeto AERIS (2017-2020), financiado com 1,57 milhões de fundos Feder através do Programa de Cooperação Transfronteiriça Interreg Espanha-Portugal (POCTEP), para impulsionar o sector aeronáutico na Andaluzia e no Alentejo.

E tendo em conta os resultados “bem-sucedidos”, explica Valadas, as duas regiões fronteiriças lançaram a segunda fase do projeto com o programa ENDUPYMES, que também é financiado pelo POCTEP com 1,34 milhões de euros e decorrerá até 2022, a fim de unir esforços não só na aeronáutica, mas também nos sectores naval e da automação.

Em destaque, a empresa CEIIA do Parque de Ciência e Tecnologia do Alentejo, e a brasileira DESAER, que chegaram a um acordo para o desenvolvimento, comercialização e industrialização de um novo protótipo de avião, o ATL-100.

“Trata-se de um pequeno avião, concebido para viagens curtas, e a CEIIA já contratou 50 engenheiros aeronáuticos para o seu desenvolvimento, que irão trabalhar a partir da região do Alentejo”, explica Valadas.

ALENTEJO, UMA REGIÃO DE ALTOS VOOS

A hora e meia de carro de Lisboa e outra hora e meia de Faro – a capital do Algarve, o principal destino turístico de Portugal – Beja alberga um aeroporto que, como diz Valadas, está “subutilizado” e não recebe voos.

É um aeroporto atípico, os seus terminais estão vazios, o único veículo estacionado ali é um carro da polícia, não há ruído de aviões a aterrar e apenas se vê um par de aviões no interior à espera de serem reparados.

O único operador deste aeroporto é a Air Fly, continua Valadas, uma empresa que desempenhou um papel importante no fornecimento de material médico para combater a pandemia do coronavírus em Portugal, especialmente durante a primeira vaga.

Foi responsável por trazer material médico da China, que era descarregado no aeroporto de Beja e depois distribuído para todo o país.

“É um aeroporto logístico e de apoio para alguns voos pontuais”, explica Valadas, que recorda que esta infraestrutura nasceu há décadas como uma base aérea que foi utilizada pelos alemães.

Agora, sem uso definido, o cluster aeronáutico hispano-português vê nesta infraestrutura um bom motor para a descolagem tecnológica da Andaluzia e do Alentejo.

“Daqui a vinte anos, a região do Alentejo não será apenas vinhos e gastronomia, haverá também um polo industrial que fará com que nos olhem de maneira diferente”, prevê ele.

 

A AIRBUS DESCOBRE O ALENTEJO

Entre os frutos do trabalho desenvolvido desde 2019 pela plataforma formada pela Andaluzia e pelo Alentejo está o interesse despertado pelo aeroporto de Beja à Airbus, o maior grupo aeroespacial do mundo.

A partir deste cluster ibérico, explicam que o espaço aéreo está cada vez mais congestionado, especialmente na zona francesa de Toulouse, onde a Airbus desenvolve os seus testes de voo.

E neste sentido, o aeroporto de Beja “pode ser ideal”, uma vez que é uma zona sem voos, as suas condições meteorológicas são “privilegiadas” e, além disso, “pode-se voar nesta zona cerca de 300 dias por ano”, argumenta Hugo Valadas.

Dada a dificuldade de encontrar corredores aéreos na Europa, o interior da região do Alentejo pode ser visto como uma alternativa ideal.

Além disso, o pequeno aeroporto desta cidade portuguesa procura ganhar relevância com a criação de uma fábrica de hidrogénio que vai ser construída no porto de Sines (costa atlântica do Alentejo) com um investimento de 5.000 milhões de euros, uma vez que é considerado um ponto estratégico do corredor do sudoeste ibérico

“O aeroporto ganhará com isso”, explica Valadas, e também com a modernização das vias ferroviárias que ligarão este enclave à capital espanhola.

RELANÇAMENTO DO AERÓDROMO DE ÉVORA

Na Universidade de Évora (Alentejo) estão a formar mão-de-obra especializada para futuras empresas tecnológicas que queiram instalar-se nesta área do interior português, onde existe um aeródromo, agora paralisado, que formou pilotos de diferentes países europeus nas últimas décadas.

“Este aeródromo de Évora, onde 10% dos pilotos portugueses foram treinados, vai começar a funcionar no próximo ano”, afirma-se na plataforma.

O objetivo é recuperar a sua reputação de escola internacional, já que foi aqui que se formaram muitos pilotos de toda a Europa, de países como a Alemanha, Suécia ou Dinamarca, entre muitos outros.

 

SEIS PROJETOS DE I&D E QUATRO STARTUPS

Durante o trabalho conjunto entre o Alentejo e a Andaluzia, desenvolvido desde 2019, surgiram quatro startups localizadas em Sevilha e 6 novos projetos relacionados com a indústria aeronáutica.

Uma das empresas tecnológicas criadas é a Aerocad Aeropolis, destinada à formação, enquanto a Edair Technologies trabalha em projetos de defesa e apoio à frota de aeronaves.

A Airvant foi criada para revolucionar a otimização dos armazéns industriais com o uso de drones e a Vertical Engineering oferece soluções avançadas utilizando a tecnologia do drone.

Entre os projetos de inovação decorrentes desta plataforma hispano-portuguesa, destacam-se alguns como o AERIAL-CORE, que visa consolidar a liderança europeia na robótica aérea mundial com drones e inteligência artificial, ou o Hyfliers, que irá desenvolver dois protótipos para o primeiro robô híbrido do mundo (aéreo e terrestre).

O objetivo de toda esta sinergia luso-espanhola é claro, que “a Andaluzia e o Alentejo” se tornem uma referência tecnológica europeia e que seja criado o “Silicon Valley Ibérico”.

 

Esta reportagem faz parte da série “”Historias Transfronterizas de Cohesión Europea”, #HistoriasTransfronterizas, #CrossBorder, um projeto da Agência Efe financiado com o apoio da Comissão Europeia. A informação é da exclusiva responsabilidade do autor. A Comissão não é responsável por qualquer utilização que dela possa ser feita.